Dados do IBGE revelam que mais de 10 milhões de pessoas no Brasil têm algum grau de surdez, outro estudo aponta que entre 7% e 10% das crianças em idade escolar apresentam algum tipo de distúrbio de linguagem ou fala
Em 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data marca a conscientização da luta anticapacitista e chama a atenção para a importância da inclusão. O otorrinolaringologista é o médico especializado em doenças do ouvido, nariz e garganta, que desempenha um papel crucial no diagnóstico e tratamento de Pessoas com Deficiência (PCDs) – especialmente em condições relacionadas à audição.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que mais de 10 milhões de pessoas no País têm algum grau de surdez, o que corresponde a 5% da população. Nesse cenário, é de fundamental relevância a atuação do médico otorrinolaringologista e do fonoaudiólogo.
A médica otorrinolaringologista Juliana Caixeta explica que a surdez pode ser causada por diversos fatores, como infecções, envelhecimento, exposição a ruídos, tumores e malformações congênitas. Ela destaca que os tratamentos variam de acordo com a causa e com o grau da perda auditiva e orienta sobre os tratamentos adequados para promover a inclusão e garantir qualidade de vida dessas pessoas com perda de audição.
De acordo com a médica, os sinais de alerta para procurar ajuda são quaisquer dificuldades ou desconfortos na audição e na comunicação. “Toda pessoa com uma sensação de que não está ouvindo bem, que pede para repetir, que tem zumbido ou que não está compreendendo bem aquilo que ouve, deve procurar um especialista”, orienta a otorrinolaringologista.
A médica explica ainda que a constatação da perda auditiva é possível por meio da avaliação audiométrica, exame que verifica se há ou não perda auditiva e também permite quantificar essa perda. Nas crianças pequenas, outros exames, como o teste de otoemissões acústicas e o Potencial Evocado Auditivo podem ser úteis no diagnóstico. Esses exames são popularmente conhecidos como o Teste da Orelilha e Bera ou Peate.
De acordo com a médica, os três principais tipos de perda auditiva são: neurossensorial, que resulta de danos às estruturas do ouvido interno ou ao nervo auditivo; a condutiva, que ocorre quando há dificuldade para conduzir o som da orelha externa até a interna; e a mista, que é uma associação das duas. Por conta das especificidades, o tratamento deve ser personalizado para atender as necessidades de cada paciente.
“O tratamento da surdez inclui o uso de aparelho auditivo, opção eficiente na maioria dos casos, ou ainda por meio de cirurgias em que próteses parcial ou totalmente implantáveis podem oferecer uma melhora da audição”, explica. Ela orienta que a perda auditiva neurossensorial pode ser leve, moderada, severa ou profunda e afeta a capacidade do ouvido de transmitir sinais sonoros para o cérebro.
Ela destaca ainda que nestes casos a melhor estratégia de intervenção se dá quando o diagnóstico é feito de forma precoce, especialmente quando ocorre em crianças, pois pode afetar o desenvolvimento da fala, da linguagem e do aprendizado. “Um diagnóstico precoce e um tratamento adequado são essenciais para minimizar os impactos na qualidade de vida e na comunicação do paciente com perda auditiva. Intervenções tardias podem causar dificuldades de comunicação e de linguagem falada e escrita que podem perdurar por toda a vida.
Juliana Caixeta salienta ainda que o tratamento precoce também pode ser determinante nos casos de perda auditiva condutiva. Essa condição ocorre quando há um problema na transmissão de som tornando-o mais fraco ou abafado. A perda auditiva condutiva pode ser temporária ou permanente, dependendo da causa subjacente e do tempo de identificação dessa causa.
As otites ou infecções de ouvido são um exemplo disso, elas podem causar perda auditiva temporária ou gerar uma condição permanente se não forem tratadas adequadamente. A otosclerose, que recentemente ganhou destaque pelo relato da apresentadora Adriane Galisteu, também pode causar perda auditiva condutiva e tem uma boa resposta à cirurgia em boa parte dos pacientes.
A médica afirma que a reabilitação certamente melhora a qualidade de vida de todas aquelas pessoas que não ouvem bem. “Hoje temos aparelhos modernos, que podem ser adaptados para diferentes ambientes, para ambientes ruidosos, para ambientes silenciosos. Temos também as próteses cirurgicamente implantáveis, que estão cada vez mais modernas e têm oferecido uma qualidade de som cada vez melhor para os nossos pacientes, por isso é possível ter uma boa qualidade de vida sendo deficiente auditivo” explica a otorrinolaringologista.
Distúrbios de fala e linguagem
De acordo com um estudo publicado na Revista Brasileira de Terapia Intensiva, estima-se que no Brasil entre 7% e 10% das crianças em idade escolar apresentam algum tipo de distúrbio de linguagem ou fala. O atraso de fala pode estar associado a perda auditiva e também a transtorno do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista. Condições neurológicas podem afetar diretamente a linguagem, como a Síndrome de Down e a paralisia cerebral; alterações anatômicas congênitas como fissura labiopalatina também podem afetar a capacidade de produzir sons claros e precisos, levando a dificuldades na fala.
Existem ainda condições subdiagnosticadas, como o Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem (TDL) e a Apraxia de Fala da Infância (API) que, muitas vezes, serão detectadas tardiamente, após o período de alfabetização. Por isso, a importância em se procurar ajuda precocemente.
Os tratamentos para os distúrbios de fala e linguagem geralmente exigem a intervenção de uma equipe multidisciplinar, envolvendo otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e neurologista. “O tratamento desses pacientes exige colaboração e acolhimento por parte dos profissionais, a troca de informações na equipe pode ser decisiva na hora de fazer o diagnóstico e indicar o melhor tratamento”, pontua.
Os tratamentos para pessoas com dificuldade na fala podem contemplar terapia fonoaudiológica, uso de medicações, e, até mesmo, cirurgia.
Reabilitação e inclusão
Segundo Juliana Caixeta o suporte psicológico e social também tem grande importância no tratamento dos distúrbios de fala e linguagem, pois essas condições podem impactar a autoestima e a qualidade de vida. Nos pacientes com perda auditiva, a inclusão é baseada em duas frentes.
“A primeira estratégia é a reabilitação, quanto melhor a reabilitação, melhor esse indivíduo estará adaptado à sociedade. Mas é preciso também adaptar a sociedade às pessoas com deficiência e facilitar a colocação, especialmente daqueles que se enquadram como portadores de deficiência, no meio educacional, no mercado de trabalho e nas relações afetivas”.
Para a médica é preciso desmistificar a perda auditiva. “É fundamental desconstruir o preconceito quanto ao uso dos aparelhos auditivos, isso é feito ao promover informação a fim de que as pessoas percebam o quanto é importante utilizar os aparelhos para se ouvir melhor, para se comunicar melhor. Outra ação determinante é a capacitação de entendimento de linguagem não verbal e o letramento em libras para as pessoas que estão em contato com PCDs”.
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