Eychila Daniely, de 21 anos, fez cirurgia para retirar pedras no canal da bile. Segundo a família, ela recebeu alta e, dias depois, surgiram manchas na pele similares a queimaduras, quando ela precisou ser internada e ficou dias à espera de UTI especializada.
A Polícia Civil investiga a morte da vendedora Eychila Daniely Araujo Nunes, de 21 anos. Segundo a família, Eychila passou por uma cirurgia para retirar pedras no canal da bile e recebeu alta do hospital em Goiânia, mas, dias depois, surgiram manchas na pele similares a queimaduras, e ela precisou ser internada em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, onde ficou cinco dias à espera de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) especializada para queimados.
Eychila morreu no último dia 31 de janeiro deste ano, no Hospital Estadual de Trindade (Hetrin), onde foi internada na enfermaria em 20 de janeiro. Um dia depois, ela foi para a UTI da unidade. Como piorou, o hospital pediu a transferência para uma UTI especializada em queimaduras, o que não ocorreu.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que prestou toda a assistência médica à paciente e solicitou a vaga na UTI para queimados. A SES-GO pontuou que não divulga mais informações sobre o quadro clínico da paciente por causa do sigilo médico (leia nota completa no fim da reportagem).
Já a cirurgia para retirar as pedras foi realizada no dia 14 de janeiro, no Hospital Gastro Salustiano, de onde ela recebeu alta antes de surgirem as manchas. O diretor técnico da unidade disse que não houve nada anormal na evolução do caso e que não tiveram intercorrências no procedimento (veja detalhes do posicionamento abaixo).
A família registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, que informou que instaurou um inquérito na 1ª Delegacia Distrital (DP) de Goiânia para apuração dos fatos.
Eychila Daniely Araujo Nunes teve manchas na pele que se tornaram queimaduras, em Trindade, Goiás — Foto: Reprodução/ TV Anhanguera
Manchas na pele
Responsável pela cirurgia para retirar pedras no canal da bile e diretor técnico do hospital em que a vendedora foi operada, Salustiano Gabriel Neto disse que Eychila chegou à unidade com hepatite, cálculo na via biliar e insuficiência hepática a esclarecer. De acordo com o profissional, reações em cirurgias para retirada de pedras são raras e, se a jovem tivesse tido uma reação ao procedimento, seria imediata.
Após a cirurgia, a jovem recebeu alta e foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial com médicos hepatologistas e dermatologistas.
Segundo a família, a jovem entrou em contato com o médico que fez a cirurgia e questionou se era normal estar inchada e, por mensagem, ele disse que sim. A família acredita que algum remédio pode ter causado a reação no corpo de Eychila.
“Você toma um medicamento para melhorar e piora, é normal?”, questionou Maria Aparecida, tia da jovem.
Sobre a formação de crostas na pele da vendedora, o médico explicou que a pele da vendedora já estava inchada, amarela e descamando antes de ela chegar ao hospital. Por isso, ele afirmou que ela não teve reação alérgica do procedimento.
“Ela já estava assim [com manchas na pele], e a evolução do quadro de insuficiência hepática que começou muito antes de ela chegar para submeter ao procedimento. A pele dela na chegada estava bastante ictérica (amarelada), descascando a pele no rosto e por todo corpo”, explicou o médico.
Pedido de transferência e morte
Com o aumento das manchas, a jovem procurou o Hutrin. A família contou que ela precisava ser transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de queimados com isolamento.
A vaga foi solicitada no dia 26 de janeiro para o Complexo Regulador Estadual. Contudo, a família disse que a transferência não foi feita a tempo.
No atestado de óbito de Eychila constam as seguintes causas da morte:
- Septicemia: infecção generalizada no sangue;
- Síndrome Steven Johnson: doença de pele com as lesões de pele;
- Necrólise epidérmica tóxica: tipo mais específico da lesão de pele causada pela Síndrome de Steven Jonhson;
- Colecistite: inflamação na vesícula biliar.
Desabafo
Wender Nunes, pai de Eychila, o pai relatou ao G1 que saiu de Manaus (AM) e chegou à Trindade no dia 30 de janeiro. Abalado, ele conta que falou com a filha no leito do hospital.
“Conversei com ela, disse: ‘O papai chegou’, ‘o papai tá aqui’. Só que necrosou o corpo dela todo, parecia queimado”, lamentou.
Eychila deixa dois filhos, um de 1 ano e dois meses e outro de dois meses.
Nota SES-GO
A Secretaria de Estado da Saúde informa que a paciente foi recebida via Pronto Socorro do Hospital Estadual de Trindade (Hetrin) no dia 20/01/2023 e no dia seguinte (21/01) foi internada em leito de UTI da unidade. Em 26/01 o Hetrin realizou solicitação de UTI para queimados para a paciente.
O Complexo Regulador Estadual realizou busca qualificada da vaga, tanto na rede estadual, quanto na rede especializada da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Ressalta-se que a paciente se encontrava assistida em cuidados intensivos em leito de UTI durante todo processo. Em 31/01 o Hetrin informou o cancelamento da solicitação, por óbito da paciente.
A SES-GO reforça que durante todo o período de internação da paciente no Hetrin foi prestada assistência médica e multidisciplinar. Em Goiás, o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) é referência na rede estadual para atendimentos de queimados aos 246 municípios goianos.
Em relação a essas informações não é possível responder por questão de sigilo médico. Dados de pacientes não são repassados e maiores informações devem ser colhidas com a família, a qual recebeu todas as orientações das unidades hospitalares.
Via G1
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